sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Diagnóstico Laboratorial das KPC - Parte II "O TESTE DE HODGE MODIFICADO"

Como já foi dito anteriormente, a detecção laboratorial de uma bactéria portadora do gene KPC é difícil, fazendo necessária a utilização de algumas técnicas moleculares, para a identificação deste gene.

Mas hoje vamos falar de um teste bastante utilizado nos laboratórios de microbiologia: O TESTE DE HODGE MODIFICADO (THM)

O Teste de Hodge é utilizado nos laboratórios clínicos ( e quando são) para verificar a presença de carbapenemases. O teste é simples, numa placa contendo o meio de cultura ágar muller hinton, semeia-se uma cepa sencível ( ATCC 25922), que se trata de uma Escherichia coli sensível a todas as drogas. O semeio deve ser realizado com auxílio de um swab, espalhando a suspensão bacteriana por toda a extensão do meio de cultura, a fim de forma-se um tapete.


Semeio em placa de petri - Observa-se que toda a placa deve ser tomada pela suspensão bacteriana.

 Após a placa seca, adiciona-se ao centro do meio de cultura um disco de antimicrobiano carbapenêmico ( meropenem ou ertapenem) e faz-se estrias do isolado que se quer testar do centro da placa até sua periferia.


O teste de hodge positivo se confirmará, quando houver uma distorção no halo de inibição da cepa ATCC como mostrado na figura acima. Isso confirmará que a cepa é produtora de uma carbapenemase. Mas é importante ressaltar que esse teste apenas foi validado para testar isolados de Klebsiella pneumoniae produtoras de carbapenemases, ou seja, em outras espécies bacterianas o MIC (Concentração Mínima Inibitória) deve ser realizado.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Diagnóstico Laboratorial das KPC - PARTE I

Hoje com certeza se chegarmos em um laboratório clínico, muitos bacteriologistas olharão para diversos isolados bacterianos e estufarão o peito pra dizer: ENCONTREI UMA KPC...

E aí, será que ele está certo? E os 50 anos dele na profissão, nessa hora conta?



A detecção de isolados produtores de KPC num laboratório da bacteriologia é bastante duvidosa e gera muitas polêmicas.
Como já havia falado em postagens mais antigas, o gene KPC é responsável pela síntese das carbapenemases, estas enzimas tem a capacidade de hidrolisar diversos fármacos antimicrobianos ( com destaque os beta-lactâmicos - Penicilinas, cefalosporinas de 1a a 3a geração e os carbapenêmicos), porém são inibidas pela presença de inibidores de beta lactamases (como o Ácido clavulâncico).
Então no laboratório de Microbiologia, o primeiro possível sinal de uma bactéria KPC + , é a leitura do antibiograma. Quando lemos um antimbiograma e observamos que o micro-organismo que foi semeado em placa é resistente aos carbapenêmiocos ( Ertapenem, Imipenem e Meropenem) e as cefalosporina de 3a geração (Cefotaxima, ceftriaxona, ceftazidima, ceftizoxime), apresentando o Teste de ESBL positivo, podemos SUSPEITAR de KPC.

Antibiograma


É galera, podemos apenas suspeitar e não afirmar. Quem nos garante que essa resistência demonstrada pelo micro-organismo não seja devido a outro mecanismo de resistência (Bomba de Efluxo, alteração da permeabilidade da membrana, entre outros).

Diversos mecanismos de resistência numa bactéria.
Além destes argumentos, vale argumentar que os carbapenêmicos, principalmente o Imipenem, apresenta falsa sensibilidade in vitro, ou seja a bactéria é resistente aos carbapenêmicos, mas no antibiograma se demonstra sensível. Isso dificulta ainda mais na identificação dos isolados KPC +


Na próxima postagem, vamos discutir sobre o Teste de Hodge Modificado, e como ele pode identificar isolados KPC +.

Por: Willames "Burkholderia"

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

KPC PARTE III - MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O GENE KPC

Vamos falar um pouco mais sobre as características do gene KPC.

Apesar do gene KPC ter sido descrito pela primeira vez em um isolado de Klebsiella pneumoniae, hoje sabemos que ele não é um gene exclusivo desta gênero bacteriano. Este gene já foi descrito em isolados de Enterobacter cloacae, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosas, Morganella morganii, Acinetobacter baumanni. Estudos recentes no grupo de resistência bacteriana da UPE (Universidade de Pernambuco) sobre resistencia bacteriana, mostram a presença do gene KPC também isolados de Serratia marcences.

Então aí vai outra dica bem importante, ao escutarmos falar em KPC não podemos atribuir a presença deste genes apenas a Klebsiella pneumoniae, já que como foi dito neste texto outras bactérias também pode adquirilo.





Este gene é mediado por plasmídeos, ou seja, sua disseminação em um ambiente hospitalar é muito mais fácil devido aos mecanismos de transmissão de genes ( conjugação bacteriana). É necessário apenas a interação de duas bactérias diferentes, uma com o gene KPC e outra sem, que por conjugação bacteriana uma bactéria passa o gene de resistência para outra. Associado ao gene podemos também observar a presença de integrons e transposons e esses elementos do DNA bacteriano aumentam o nível de resistência dos micro-organismos.


Estrutura de um transposon

Inserção de um cassete gênico em um integron

Bem pessoal, por hoje é só!
Amanhã postaremos sobre o diagnóstico laboratorial de KPC!
Então Biomédicos, Farmacêuticos, Biólogos e áreas afins fiquem de olho....

Por Willames "Burkholderia e Thais "Morganella"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

KPC PARTE II - A DESCOBERTA DO GENE KPC

Continuando nossa conversa sobre a KPC....


O gene KPC foi detectado pela primeira vez em 1996 ,mais especificamente na Carolina do Norte (EUA) pelo grupo de pesquisa do Dr. YGIT, em um isolado de Klebsiella pneumoniae.  
Verificou-se que o gene KPC expressava uma enzima, a carbapenemase. Esta enzima por sua vez tem poder hidrolítco sobre vários antimicrobianos (principalmente os beta-lactâmicos) e torna o micro-organismo resistente.

Daí surgiu o nome do gene KPC, de carbapenemase Klebsiella pneumoniae (KPC).


Mas uma coisa é certa, hoje o gene KPC não é encontrado exclusivamente em isolados de K. pneumoniae.
Mas isso é assunto para novas postagens.


Por: Willames "Burkholderia"

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

KPC PARTE I - KLEBSIELLA PNEUMONIAE

Bem gente, devido aos diversos pedidos de meus amigos do coração: ( Hari, Jê, Paulla, Johnson e Irmã Amanda) vou começar a escrever sobre este assunto que tem chamado atenção de tanta gente nas últimas semanas: A KPC.

Pra começar vamos esclarecer algumas coisinhas básicas:

1) KPC não é uma bactéria e sim um gene de resistência.

2) Bactérias que possuem o gene KPC apenas se tornam MULTIRRESISTENTES ( ou como a mídia diz, superbactérias) quando estão associadas a outros mecanismos de resistência.

Então vamos lá:

Em nosso organismo existem vários tipos de bactérias que fazem parte de nossa microbiota normal (ou seja, não causa nenhum tipo de infecção quando estão no seu hábitat e em quantidades corretas. Como exemplo disto podemos citar a Escherichia coli que coloniza o intestino humano,não causando infecção, pelo contrário contribuem na síntese de vitamina B12. Outro exemplo de bactéria que compõe a microbiota norma é a Klebsiella pneumoniae. No intestino esta enterobactéria não causa infecção alguma, mas fora do seu sítio característico pode causar severas infecções.
Bem até aí nenhuma novidade e nada que possa assustar, já que a qualquer antimicrobiano beta-lactâmico poderia tranquilamente debelar esse micro-organismo e debelando a infecção.

     
Klebsiella pneumoniae : Enterobactéria, Bacilo Gram Negativo, Imóvel (Ausência de Flagelos), Fermenta Glicose, lactose Positiva.

A história começa a ganhar graça agora, quando a Klebsiella pneumoniae  adquire genes de resistência fazendo com que muitos antimicrobianos não tenham mais ação eficaz contra esse micro-organismo.

Bem gente, a continuação sobre KPC vocês terão ao longo da semana!

Qualquer dúvida é só perguntar!!!!!


Por: Willames "Burkholderia" e Tatiana "Serratia"

domingo, 24 de outubro de 2010

O QUE SERIA RESISTÊNCIA BACTERIANA?

Bem gente, a vontade de começar a falar sobre os diversos mecanismos de resistência bacteriana está demais, todos os dias coisas novas são lançadas na mídia, e nem tudo que se fala é tão verdade assim. No entanto para falarmos dos mecanismos de resistência é necessário termos um conhecimento prévio de alguns assuntos.

Resistência Bacteriana

Resistência Bacteriana é uma situação na qual um agente antimicrobiano não consegue mais destruir ou ter uma ação efetiva sobre um micro-organismo. Essa resistência pode ser natural ou adquirida:

Natural --> Essa forma de resistência é intrínsica do micro-organismo,se expressando continuamente. É característico deste tipo de resistência a ausência da necessidade de estímulo prévio para expressar a resistência. Como por exemplo a resistência à polimixina apresentada pela Stenotrophomona maltophilia e a resistência aos beta-lactâmicos apresentada pelos Micoplasmas.

Adquirida -->  Essa forma de resistência não é produzida pela célula bacteriana ao menos que esta seja exposta a um agente indutor ou na aquisição de genes de resistência. É a esta forma de resistência que devemos concentrar a maior parte de nossa atenção, já que é através do aumento da pressão seletiva ou até da disseminação de genes de resistência dentro de unidades hospitalares que o caos da saúde pública brasileira vem ocorrendo. 


Por: Willames "Burkholderia"

sábado, 23 de outubro de 2010

ANTIBIÓTICOS X ANTIMICROBIANOS

Bem gente, agora vou falar de uma coisa muito importante e que confunde muitas pessoas: A diferença entre antibióticos e antimicrobianos.

É comum encontrar-mos pessoas que insistem na utilização do termo "antibiótico". Mas se avaliar-mos o sentido da palavra antibiótico veremos que o emprego desta é errônea nos dias atuais.

Antibiótico é uma substância produzida por fungos e bactérias que tem o poder de combater micro-organismos causadores de infecção no organismo. Como exemplo de antibiótico podemos destacar a Penicilina, já que esta é sintetizada pelos fungos do gênero Penicillium e tem atividade bactericida.
Hoje, não há mais a produção de substâncias que inibam micro-organismos desta forma. A indústria farmacêutica produz essas substâncias artificialmente (dentro de laboratórios), não podendo assim então serem denominados antibióticos ( por não serem sintetizadas por micro-organismos). Por isso a essas novas substâncias foi atribuída o nome de Antimicrobiano.
Atualmente a maioria dos medicamentos utilizados para debelar infecções bacterianas são Antimicrobianos e não Antibióticos.





Então espero ter esclarecido bem esta diferença, já que ao longo das postagens vamos mencionar bastante o termo resistência aos antimicrobianos.


Por: Willames "Burkholderia"

HISTÓRICO DA RESISTÊNCIA BACTERIANA

Para entendermos melhor o que seria o evento da resistência bacteriana, necessitamos compreender como surgiu esse mecanismo.

Em 1929 Alexander Fleming descobriu uma substância capaz de inibir o crescimento bacteriano. Fleming saiu para viajar e esquecer algumas placas com crescimento bacteriano em cima da bancada. Depois de certo tempo (mais de 1 mês) quando lembrou do acontecido ele voltou as pressas ao seu laboratório e verificou que uma suas cepas, Staphylococcus aureus haviam sido contaminadas pelo crescimento de um fungo. Também foi observado que próximo das colônias dos fungos não havia crescimento bacteriano, ou seja, houve uma inibição deste crescimento. Ele observou que essa substância era secretada por uma colônia de fungos do gênero Penicilium .

Alexander Fleming: 1881 - 1955

A essa substância ele denominou de penicilina que na década de 40 foi purificada e colocada em uso. Nesse mesmo período houve a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a utilização deste antibiótico foi feita em grande escala nos ferimentos de guerra dos soldados. A partir daí o antibiótico descoberto por Fleming se tornou um espécie de cura milagrosa de várias doenças, já que boa parte da população até então morria de doenças bacterianas. Porém não eram apenas no combate as infecções que a penicilina era utilizada, chegou a ser usada para o tratamento de dor de dente, dores de cabeça e até febre. Na década de 60 devido a grande utilização indevida do antibiótico, cinquenta por cento (50%) das cepas de Staphylococcus aureus já apresentavam resistência a penicilina. Então neste momento foram detectados os primeiros casos de resistência bacteriana. Foi verificado que as cepas de S. aureus produziam uma enzima que inativava o antibiótico, a essa enzima foi dado o nome de penicilinase.

Placa de Staphylococcus aureus em Ágar Muller Hinton


Essa descoberta estimulou os pesquisadores a desenvolver novas drogas a fim de debelar as infecções bacterianas. Com isso surgiram várias classes de antibióticos derivados das penicilinas: penicilinas semissintéticas, penicilinas com espectro ampliado, aminopenicilinas, carboxipenicilinas e ureidopenicilinas. Essas novas classes de antibióticos se destacavam pela capacidade de não serem hidrolisadas pelas penicilinas. Mas com a prática abusiva da automedicação e com a disseminação de genes de resistência, vários micro-organismos adquiriram também resistência às novas classes de penicilina.



Bem gente, essa é a história de como foi identificada pela primeira vez casos de resistência bacteriana. Definitivamente não é um assunto novo, já que desde da década 60 casos de resistência vêm sendo descrito. O agravamento da situação hoje, é que o nível de resistência vêm aumentando, ou seja está havendo o aparecimento de bactérias multirresistência.


Por: Willames "Burkholderia"

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SEJAM BEM VINDOS AO NOSSO BLOG !!!!!!

   Olá pessoal !!!!


Criamos este blog com o objetivo de passar nossos conhecimentos à vocês sobre as bactérias,esclarecendo melhor a origem ,disseminação e prevenção da resistência bacteriana aos antibióticos,que vem se demostrando nas últimas décadas como um problema de saúde pública e como a principal causa de mortes dentro de ambientes hospitalares.

     
 Estamos a disposição para o esclarecimento de dúvidas, além de aceitação de críticas e sugestões.


Por: Jonathan "Proteus"
        Tatiana "Serratia"
        Thais "Morganella"
        Willames "Burkholderia"

* Nomes fictícios